É de praxe... Em Londres
É de praxe ler Álvaro de Campos e ouvir Nirvana em uma mesma tarde e ter vontade de se matar.
É de praxe sentir preguiça antes de ir trabalhar, mas sentir mais preguiça ainda quando não se tem nada pra fazer.
É de praxe ir dormir cedo e acordar tarde, e ainda dormir depois do almoço.
É de praxe sair a noite, com raiva do mundo, pensando que ninguém a sua volta te faz feliz, e se divertir horrores.
É de praxe pensar em economizar a semana inteira, e na sexta-feira descobrir que a sua loja favorita está com 70% de desconto em todo o estoque.
É de praxe não querer comer sushi, e só ter sushi na sua geladeira.
É de praxe estar em Londres e querer voltar para o Brasil, e estar no Brasil e querer vir para Londres.
É de praxe querer ter um namorado, mas colocar para correr os rapazes que se interessam pelo material.
É de praxe andar no mesmo ritmo da música do MP3, e cantar mais alto do que se deveria em lugares públicos.
É de praxe deitar na grama do Hyde Park e ter um coroa qualquer para estragar a sua tranqüilidade.
É de praxe trocar telefone com os gatinhos do metro.
É de praxe dizer que não tem telefone para os não tão gatinhos assim.
É de praxe pensar que a vida dos demais intercambistas é muito mais excitante que a sua.
É de praxe sorrir quando alguém muito metido a residente londrino fica agarrado nas catracas do metro.
É de praxe planejar fazer milhares de coisas diferentes, e acabar sempre no mesmo bar, com as mesmas pessoas.
É de praxe matar aula, só porque se quer matar aula.
É de praxe sempre contar quantos dias ainda faltam para a tão esperada viagem para Paris.
É de praxe querer ter tudo, mas não querer gastar nenhuma libra.
É de praxe querer levar tudo pra casa, mas não ter nenhum lugarzinho sobrando na mala.
É de praxe sentir frio à noite, quando o sol misteriosamente e rapidamente se transformou em vento e chuva.
É de praxe imaginar como a vida vai ser diferente dentre de alguns meses, quando o sonho londrino estiver no fim.
É de praxe sentir o peito apertado pela saudade.
É de praxe dizer que odeia Londres, mas saber que vai morrer de saudades quando não tiver mais Londres para odiar.
É de praxe não querer mais andar, mas não parar.
É de praxe continuar...
É de praxe estar cansada de viver, mas não querer parar de viver por nada.
Ane Caroline Ribeiro, agosto de 09, Londres
Friday, August 28, 2009
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