Tuesday, October 23, 2007

Ame sempre, ame muito...

Além da terra, além do céu
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na Magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o caração
Vamos!
Vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar, razão de ser e de viver.


Carlos Drummond de Andrade

Sunday, October 14, 2007

Existencia

De repente agora.
Os segundos indomáveis
Fluem num compasso que não controlo.
O momento anterior já o perdi.
Dele o que restou?
Lembranças, talvez...
O ontem, como vento,
brevemente passou.
O amanhã iminente se levanta.
O tempo é inesgotável.
Na eternidade cadenciada do tempo
o presente suspira sua imortalidade.
Esgota-se.
E como a Fênix, se renova no momento posterior.
Aonde neste devir me encontro?
Não enquanto matéria.
Essa, já há muito tempo foi sentenciada,
Terá princípio meio e fim.
Na constância inconstante do tempo,
onde tudo muito ou pouco
me parece tão fugaz,
como concluir que viver não é em vão?
Para existir basta nascer
para eu não ser, basta lutar, desejar.
Beber goles secos da morte não é a solução.
Vivo da saudade sentida.
Ela, como criança, se abriga no ventre do meu existir.
Se alguém por mim a gerar, saberei,
que bem ou mal, eu existo.
Na bruma do tempo, essa certeza não se desvanecerá.
De repente agora...


Paula Novaes

Monday, October 01, 2007

"Nothing" is something...

Quero pintar uma tela branca. Como se faz?
É a coisa mais difícil do mundo. A nudez.
O número zero. Como atingi-los?
Só chegando, suponho, ao núcleo último da pessoa.

Clarice Lispector